voltar O Rio de Machado de Assis

Botafogo

Há sempre uma cidade em cada grande escritor. Algumas mais visíveis que as outras.

Como se pode falar de Machado de Assis sem falar do Rio de Janeiro?
Como se pode ler Machado sem “ler” o Rio?

Ele eterniza a cidade do final do século XIX, deixando pairar sobre ela o seu espírito.

Seus inúmeros personagens são como placas de ruas que sinalizam o seu labirinto interior.

Assim dizia o nosso grande escritor:

“É meu costume, quando não tenho o que fazer em casa, ir por esse mundo de Cristo, se assim se pode chamar a Cidade de São Sebastião, matar o tempo. Não conheço melhor ofício, mormente se a gente se mete por bairros excêntricos. Um homem, uma tabuleta, qualquer cousa basta a entreter o espírito...”

Do ponto de vista humano e urbanístico, o Rio de Janeiro em que Machado de Assis viveu dificilmente poderia ser considerado "a cidade maravilhosa" que se transformaria no mais conhecido cartão postal do país.

Laranjeiras

A paisagem natural imponente servia de cenário para inúmeras mazelas sociais, incluindo graves problemas de saúde pública e planejamento urbano.

Em boa parte da maior metrópole brasileira, as ruas eram estreitas, as vielas sujas, e a iluminação, rede de esgotos e abastecimento de água eram inexistentes ou precários.

As casas de tijolo e alvenaria eram escassas, e uma parcela significativa da população era obrigada a procurar moradia em cortiços e favelas, enquanto um segmento reduzido vivia em elegantes palacetes nas ruas de Botafogo e Laranjeiras.

Entre os dois extremos - cortiços e palacetes - uma classe média emergente expandia a cidade para os subúrbios construindo casas singelas.

Esta nova classe social era formada por pequenos assalariados, funcionários públicos, negociantes bem-sucedidos, médicos e integrantes das milícias nas últimas décadas do século XIX.

Embora a cidade cultivasse um lado "Belle Époque", de saraus e costumes de influência européia e moda importada de Paris, a imensa maioria da população defendia a sobrevivência nas ruas.

Rio Antigo Museu Nacional de Belas Artes

O crescimento desordenado da cidade (690 mil habitantes na virada do século) e a inexistência de saneamento básico formavam um solo fértil para o aparecimento de doenças. E o Rio de Janeiro do tempo de Machado de Assis foi, antes de tudo, perigosamente insalubre.

Nos poucos anos que antecederam a morte de Machado de Assis, o Rio de Janeiro passou por profundas transformações. "Era a transição da cidade malsãMalsã = (s.f) doentia, insalubre, enferma, mal curada para a "maravilhosa", definiu o escritor Pedro Calmon.

linkConheça um pouco desse Rio de Janeiro, no filme “O Rio de Machado de Assis”: