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Drogas

Mais do que uma entrevista, uma conversa com os pais, onde a médica psiquiatra Maria Thereza de Aquino, professora de Psiquiatria da UERJ - Universidade do Estado do Rio de Janeiro, reflete sobre a família contemporânea, o problema das drogas e derruba alguns mitos.

Drª. Maria Thereza está à frente do NEPAD - Núcleo de Estudos e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas da UERJ, há quase 20 anos. Este órgão atende a pacientes usuários de drogas, e seus familiares, de forma gratuita e anônima, e desenvolve também pesquisas e estudos sobre o tema.

Veja, a seguir, os comentários da psiquiatra.

Sobre adolescentes e drogas

Na realidade, quando falamos em adolescentes, não cabe muito falarmos em classes sociais, porque os problemas, soluções e desejos com que eles lidam, são praticamente os mesmos, independentemente se ele/ela é da classe mais favorecida ou menos favorecida. Falando então em adolescentes, vamos constatar que a idade de ingresso para tratamento em Centros de Atenção a Usuários de Drogas está se tornando progressivamente menor, ano a ano.

Em 1986, quando publicamos nossa primeira pesquisa sobre "quem" consome "o que" e "onde" no Rio, vimos que nossos pacientes tinham uma idade em torno de 23/24 anos e tinham entrado em contato com a droga por volta dos 16. Hoje, temos em tratamento adolescentes em torno dos 13 anos de idade que referem terem começado a experimentar drogas aos 10 ou 11 anos.

A primeira droga que eles/elas usam é o álcool, depois o cigarro de tabaco e daí partem ou para a maconha, cola de sapateiro, outros solventes e cocaína. A maior parte é de meninos (sexo masculino), em torno de 70% da amostra.

Como o NEPAD é uma instituição gratuita da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, nossa população é de classes menos favorecidas, o que não impede que tenhamos também, em atendimento, jovens de classe mais elevada, como filhos de médicos e professores da Universidade. Como adolescentes, pouco diferem psicologicamente uns dos outros. O que muda é o stress social, lógico que mais intenso entre as classes C e D, por conta de morarem em favelas, lidarem mais de perto com o tráfico, a violência, etc.

A droga entra na vida deles em parte pela curiosidade, por ouvirem falar, depois o gosto pelo perigo, pelo proibido, normal nessa idade. Hoje em dia existe também como fator importante a facilidade com que as drogas são obtidas dentro das escolas, com colegas, fornecedores, etc.

O mais importante a destacar é que é o jovem que procura a droga: ela não é oferecida a ele, pelo menos não que eu tenha conhecimento.

Os jovens hoje são inteligentes, sim, informados também, mas não necessariamente "bem informados".

O adolescente que usa drogas busca em fontes como a internet, livros espúrios, etc., tudo que possa comprovar sua necessidade ou a falta de periculosidade no ato de consumir substâncias psicoativas. Toda droga psicotrópica age no cérebro.

Assim, o cérebro adolescente é uma presa fácil da substância porque ainda está em formação: aos quinze anos ele já dispõe do domínio da inteligência, mas ainda não dispõe da maturidade, que só advém após a completa formação dos lobos frontais, por volta dos 21 ou 22 anos de idade.

Mesmo em nossos filhos que são mais bem alimentados, tomam mais vitaminas, têm melhor alimentação, etc. o amadurecimento cerebral é anatomicamente definido: o cérebro amadurece de baixo para cima (da nuca para a parte da frente, em direção à testa) e da parte de trás para a frente.

Primeiro, amadurecemos as partes cerebrais que garantem nossos reflexos de sucção, piscar, etc., depois, progressivamente, podemos ficar em pé, andar, falar, etc. Tudo depende de uma espécie de "programação" da anatomia do Sistema Nervoso Central (que fica dentro da caixa craniana).

A droga, agindo em um cérebro imaturo, mas inteligente, provoca uma reação paradoxal: ela anula a própria vontade do dependente em cessar o uso, porque o que chamamos de "força de vontade", piedade, altruísmo, etc. só chega com a maturidade.