BEBER É DE FATO UM MAL?
Tania Zagury (*)
Aumenta a cada dia o número de pessoas que, independente de cor, idade, gênero ou classe social fazem uso de bebidas alcoólicas de maneira indiscriminada, sem acreditar (apesar do tanto que já se falou e se fala a respeito) que esse hábito pode realmente conduzir à dependência e a sérios problemas de saúde.
Por ser uma droga lícita, muita gente acha que beber não oferece qualquer perigo. Muitas pessoas nem mesmo a reconhecem como "droga". Infelizmente o álcool, quando consumido de forma constante, leva sim à dependência, podendo trazer sérios danos à saúde. A longo prazo traz prejuízos irreparáveis (como a cirrose hepática), sem contar o processo de deterioração pessoal e profissional, que pode arruinar a vida do usuário e de toda sua família.
O álcool é também responsável pelo maior índice mundial de absenteísmo no trabalho, alem de o alcoolismo constituir um grave problema social em muitos países.
Não é por outro motivo que a legislação brasileira proíbe a venda de bebida alcoólica a menores. Os estabelecimentos comerciais estão sujeitos a penalidades bastante severas se não respeitam a lei. Infelizmente como a fiscalização é escassa e ineficiente, grande parte do comércio nem liga para a legislação, ignorando totalmente seu papel social.
Os pais têm, portanto, importante papel nesse tópico – cabe a eles conscientizar os filhos, não somente do ponto de vista legal, mas especialmente com relação aos problemas que o uso sistemático pode trazer.
Na sociedade atual é grande o número de jovens que bebem muito - e desde bem cedo. Mas não somente por culpa de comerciantes inescrupulosos e da conhecida impunidade que impera no Brasil. Há outro fator muito importante atuando sobre jovens (e adultos também): somos bombardeados diariamente por mensagens subliminares em filmes, programas de TV e anúncios nos quais o álcool sempre aparece vinculado a situações de sucesso, alegria e felicidade. A indução é sutil e desenvolve o desejo, além de promover uma série de justificativas para o uso sistemático. Beber para se alegrar; beber para descontrair; beber porque está triste; beber porque os outros bebem; beber porque é chique, beber para comemorar...
A pergunta que devemos nos fazer é: quem bebe sem jamais perder a sobriedade, quer dizer, quem toma um drinque ou outro, somente em algumas ocasiões e pára na hora certa, precisa mesmo de alguma justificativa? Ou será que as justificativas se tornam necessárias para aqueles que, no fundo, no fundo, têm consciência de que o álcool já se tornou uma espécie de "muleta" social e emocional?
Dentro desse panorama, poucos pais conseguem ter clareza e segurança para orientar os filhos a não fazerem uso de álcool antes dos 18. Na verdade, há mesmo uma inibição em proibir o uso de bebida alcoólica que soa como "caretice", "moralismo" ou exagero. E ninguém gosta de parecer careta, muito menos moralista. Por isso não são poucos os que se omitem, enquanto outros, quando orientam, o fazem de forma evasiva ou tímida. E, no entanto, dar orientação clara e objetiva sobre o tema, conversar e fornecer dados concretos aos filhos (evitando utilizar conceitos morais apenas, tais como "é feio","não fica bem", "é errado") é tão importante! Afinal, grande parte dos jovens embarca nessa canoa por insegurança, curiosidade ou para acompanhar os amigos. Ensinar, portanto, aos filhos a dizer "não", a enfrentar pressões do grupo e muni-los de argumentos fortalecedores e convincentes, pode fazer muita diferença na tomada de decisões de adolescentes confusos...
Além desse trabalho, outro, que funciona talvez ainda melhor, é o exemplo. Se os pais bebem apenas em festas ou ocasiões especiais e, se quando o fazem, são moderados, nunca passando das medidas, é muito provável que os filhos lhes sigam os passos. Afinal, tomar um drinque eventualmente, não é pecado nem deteriora a imagem de ninguém (evidentemente, se for com elegância, o que, no caso significa: saber dosar o uso).
É comum, hoje, adultos beberem com muita freqüência e regularidade. Tem gente que toma uísque todas as noites ao chegar a casa - pelo menos! É um ritual de relaxamento... E, muitos, não só um a cada noite. Nos fins de semana, nos restaurantes, nas festas - em todas as ocasiões enfim... Não há reunião que não seja regada a muitos e muitos drinques. Não significa que os pais não possam ou não devam beber nunca porque tiveram filhos. Podem, é claro. Porém, de forma moderada e mantendo-se sempre sóbrios. O importante é que fique claro para crianças e jovens, desde cedo e principalmente pelo exemplo na família, que moderação é a tônica no que se refere à bebida.
Os pais devem aproveitar que a lei existe e utilizá-la a favor dos filhos. Se for difícil argumentar usando outros recursos, pode ser bem confortável alertar que, antes dos dezoito, o uso de bebida constitui infração passível de punição ao menor, mas que incide com mais severidade sobre os responsáveis. Deixe que seus filhos tomem consciência disso. Peça-lhes que reflitam se desejam ver os pais presos simplesmente porque eles não quiseram esperar para beber quando a sociedade permite.
E para quem acredita que está imune à dependência, vale lembrar que a Organização Mundial da Saúde (OMS) classifica como alcoolista o individuo que, por cerca de dez anos consecutivos, consumiu ao menos uma dose diária de bebida.
Em outras palavras: sem considerar a tragédia que afeta tantas famílias - é enorme o número de jovens que perdem a vida (ou ficam inutilizados) devido a acidentes de trânsito ocasionados pelo uso de bebida aliada à direção -, os pais podem ter certeza que é um grande ganho postergar o início do uso até a maioridade. É só pensar que um menino que começa a beber aos treze, aos vinte e três poderá ter adquirido dependência. Alarmante! Portanto, adiar o uso o mais possível, aumenta muito a chance de não se tornarem aditos.
De modo que a estratégia de ganhar tempo traz um grande ganho que, por si só, compensa e justifica enfrentar sermos acusados de caretas, antiquados ou moralistas.