FILHOS FUMANTES
Tratadas em ritmo de caça às bruxas, as campanhas de combate ao fumo optam por adotar uma linguagem ameaçadora e que contribui pouco para a conscientização em torno dos malefícios do cigarro. Dessa forma as crianças e adolescentes, que o experimentam com uma mistura de curiosidade e busca por auto-afirmação, perdem mais uma chance de conhecer os efeitos da nicotina no corpo, deixando para os pais a tarefa de alertá-los sobre este perigo.
Nem sempre funciona. Os freqüentes conselhos de familiares também parecem não surtir efeito nos adolescentes, que buscam uma suposta maturidade ostentando cigarros nas mãos, de preferência durante o intervalo das aulas ou em festinhas, sempre ao alcance do olhar atento de seus colegas. Entretanto, a grande maioria não assume esta condição na frente dos pais, seja por vergonha ou medo.
Como lidar com filhos fumantes?
O assunto é delicado e a tarefa torna-se complicada se os pais fumam: o exemplo dos mais velhos é copiado e com certeza a criança ou adolescente inspirou-se neles para dar as primeiras tragadas. Nesse caso, é preciso alertar as crianças sobre os males do cigarro, no melhor estilo “faça o que eu digo, não faça o que faço”. Afinal, muito desses pais também começaram cedo com o vício. Um estudo conduzido pelo Instituto da Saúde Infantil da Universidade de Washington e publicado em agosto último atesta: mais de 80% dos adultos fumantes começaram a fumar antes dos 18 anos.
Mas não é o caso de sentir-se culpado caso seu filho seja um fumante ou tenha experimentado cigarros. Se o assunto incomoda os pais, a melhor opção é conversar e deixar bem clara a insatisfação. Vale ressaltar que nem todos os adolescentes que experimentam o cigarro ou o consomem esporadicamente vão se tornar fumantes, mas o ponto central do problema é justamente este primeiro contato: se for possível evitá-lo, melhor. Então, se não há exemplo em casa, as chances dele acontecer são bem menores. Um dos anúncios do Ministério da Saúde impresso nos maços, inclusive, traz essa idéia: “crianças começam a fumar ao verem os adultos fumando”.
Recentemente, a Santa Casa de Misericórdia, no Rio de Janeiro, entrevistou 800 fumantes em quatro capitais brasileiras, tentando traçar um perfil do tabagismo no país. A conclusão não foi animadora, apontando que o brasileiro começa a fumar, em média, aos 13 anos de idade. Devemos lembrar que quem começar a fumar quando adolescente tem mais dificuldades de largar o vício do que quem o fez já na fase adulta. Além disso, os efeitos do tabaco no organismo de quem começa a fumar cedo são mais duradouros.
Portanto, evitar que o hábito de fumar comece cedo é a melhor (mas nem sempre a mais fácil) saída. Vale ficar atento a estas dicas:
- Uma boa sugestão para os pais fumantes é deixar o cigarro de lado quando estiver em companhia dos filhos. Um exemplo prático é muito mais eficiente do que um conselho.
- Brigar ou prometer castigos não é uma boa saída. Em muitos casos, os filhos começam a fumar simplesmente para demonstrar rebeldia ou sentirem-se superiores na frente de seus colegas, e depois acabam largando voluntariamente o hábito.
- Se seu filho já é fumante e você não consegue convencê-lo a largar o cigarro, deixe claro seus limites: se o cheiro incomoda, proíba que sejam acesos dentro de casa ou perto de você.