A FAO aponta a crise econômica que assola o mundo como maior responsável pelo aumento da fome, já que, com ela, milhares de pessoas ficaram desempregadas ou tiveram seus rendimentos reduzidos.

Além do desemprego, causa direta que atinge as famílias, a crise econômica tem outros desdobramentos: o alto preço dos alimentos básicos e a diminuição dos gastos com ajuda humanitária que era feito pelos países ricos. Conforme a FAO, a diminuição dos recursos dessa ajuda ocorre exatamente no momento em que é mais necessária. Os investimentos destinados aos países pobres e em desenvolvimento, justamente os mais vulneráveis à crise global, devem cair 32% neste ano (segundo o FMI), assim como o volume de remessas de estrangeiros (entre 5% e 8%, de acordo com o Banco Mundial).

O relatório da FAO afirma ainda que “a crise econômica se produz como continuação da crise alimentar e energética de 2006-2008. Em termos reais, os preços têm permanecido em média 24% acima dos de 2006, acrescenta a entidade. “Para os consumidores pobres, que gastam até 60% de sua renda em alimentos básicos, isso significa efetivamente uma forte redução de seu poder aquisitivo”.

Mas o aumento dos índices da fome no mundo, não teve início com a desaceleração da economia mundial. “Embora importante progresso tenha sido obtido para reduzir a fome crônica na década de 1980 e na primeira metade de 1990, a fome aumentou inexoravelmente durante a última década”, afirma a organização. O número de famintos aumentou entre 1995-97 e 2004-06 em todas as regiões do mundo, exceto na América Latina e no Caribe.

A crise de 2008 tem características inéditas, mas a verdade é que o flagelo da fome sempre existiu e sua persistência está atrelada a desequilíbrios estruturais profundos. As raízes do aumento da fome no mundo estão muito mais atreladas à falta de renda das famílias do que a uma suposta escassez de alimentos. A concentração de praticamente todos os subnutridos em países em desenvolvimento, conforme informa o relatório da FAO, aponta para a necessidade de implementação de políticas estruturais de erradicação da miséria. Em locais como África e América Latina, a produção de alimentos é alta, mas geralmente está servindo ao mercado exterior. Ou seja, mais da metade da comida colhida nessas regiões desloca-se para Estados Unidos e Europa, alimentando as famílias abastadas que consomem não só recursos alimentícios, como energéticos, acima da média mundial.

Não se pode desconsiderar também os efeitos das mudanças climáticas globais que, entre outras consequências, têm gerado um aumento das áreas desertificadas. Em 2006, segundo a ONU, 41% do território mundial era formado por áreas secas, como o semi-árido nordestino. Estas regiões abrigam 2 bilhões de habitantes.

Têm relação também com a persistência da forme a ineficácia e má administração dos recursos naturais; a concentração da propriedade das terras nas mãos de poucos e o crescimento desproporcional da população em relação à capacidade de sustentação.