Há consenso mundial sobre a necessidade de traduzir a indignação com o quadro da fome em ações concretas, imediatas. A luta contra a fome não pode depender do retorno a uma normalidade econômica num planeta já habitado por um bilhão de famintos.

Discussões e compromissos não faltam. Faltam providências concretas para equacionar a questão. A Cúpula Mundial da Alimentação de 1996 estabeleceu metas, mas a falta de uma ação coordenada global inviabilizou o alcance dos objetivos traçados. Segundo o diretor-geral da FAO, bastariam os US$ 30 bilhões anuais que solicitou aos líderes mundiais durante aquela Cúpula para relançar a agricultura e evitar ameaças futuras de conflitos gerados pela carência dos alimentos. Ele lamentou, porém, que este dinheiro não tenham chegado, assim como a FAO também “não viu um dólar dos US$ 11 bilhões que foram prometidos por alguns país no final da Cúpula”.

O diretor da FAO lembrou a estes países que, enquanto se preparam a investir grandes somas para ajudar os bancos ou o setor automobilístico a superar a crise financeira, “existe, antes de tudo, uma urgente crise alimentícia mundial que precisa ser uma prioridade política”.

Enquanto os resultados históricos da desigualdade econômica entre países colonizadores e colonizados persistirem no mundo, a fome estará presente. As nações pobres têm que lidar com a ganância dos ricos e os altos índices internos de corrupção. Os subdesenvolvidos têm que começar a produzir alimentos, prioritariamente, para si, a preços baixos. Terras agricultáveis ocupadas com commodities como café e soja precisam ser substituídas com feijão, arroz e milho e serem direcionadas para os mercados domésticos.

Os países do G-8 O G-8 foi criado em 1975 para enfrentar a primeira crise do petróleo provocada pelo embargo árabe aos aliados de Israel em 1973 e para buscar soluções para a escassez de alimentos depois do boom demográfico do ano de 1960. É um grupo internacional que reúne os sete países mais industrializados e desenvolvidos economicamente do mundo - Estados Unidos, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e o Canadá, mais a Rússia, que não participa de todas as reuniões do grupo. voltaram a tratar da crise alimentar em 2008, no Japão, e em 2009, na Itália, nessa última reunião com a participação de sete países "emergentes": África do Sul, Argentina, Brasil, China, Egito, Índia e México. O objetivo foi "trabalhar um caminho comum para nos tirar da crise e responder à emergência alimentícia mundial". Segundo os observadores, os três dias de discussões serviram apenas para ressaltar uma vez mais a desorientação das lideranças mundiais no tocante à natureza e dimensão da crise global. As divergências impediram até mesmo a elaboração de uma declaração conjunta entre o G-8 e seus convidados.

Josué de Castro tratava a fome com “a expressão biológica dos males sociológicos” deixando claro que o problema é estrutural e tem implicações sociais e que as soluções para eliminar esse flagelo impõe uma abordagem ampla, respaldada em leis e instituições. Manifestações e movimentos de filantropia e boa vontade são importantes, mas são limitados, segmentados, pontuais e emergenciais.

Tais movimentos são úteis por seu potencial mobilizador, mas os analistas insistem que é fundamental que eles existam como parceiros de uma política elaborada estrategicamente, que pensem o problema da fome de maneira global e que ataquem, na origem, os problemas sociais que produzem a situação de fome.