O darwinismo trata das evidências da origem dos seres vivos e das mudanças lentas e graduais que sofreram desde seu aparecimento até os dias atuais. Foi exposta no livro A Origem das Espécies, publicada em 1859. Nele, o naturalista plantou as bases da teoria moderna da evolução com seu conceito de desenvolvimento de todas as formas de vida através do processo de seleção natural.
Segundo Darwin, grupos de organismos de uma mesma espécie evoluem gradualmente no tempo, através do processo de seleção natural. Essa seleção tem duas fases: a primeira se dá em função da diversificação das espécies - é uma seleção dominada pela casualidade. A segunda fase é dominada pela necessidade, se dá pelo critério de sobrevivência dos mais aptos.
1ª fase - A diversificação das espécies
Em suas observações Darwin constatou que todos os membros de uma mesma espécie são semelhantes, mas não idênticos; apresentam mutações que são casuaisO acaso tem papel fundamental na teoria de Darwin. Isso não significa dizer que não existam causas das variações mas sim que a variação não tem finalidade, ou seja, não responde a uma mudança do ambiente ou a uma particular exigência do indivíduo. Nesse sentido, diz-se que a variação é casual, podendo ser positiva – caso em que a seleção a conservará – ou negativa, caso em que não será transmitida e hereditárias. Isso significa que evoluem no tempo em um processo de transformação gradual e contínuo.
Assim, alguns indivíduos pertencentes a uma certa espécie apresentam, ao nascer, algumas variações em relação aos outros de sua espécie; essas variações podem se revelar particularmente úteis em um determinado contexto, ou seja, podem fazer com que esses indivíduos sejam favorecidos no sentido de conseguirem sobreviver e terem maior sucesso na reprodução.
Essas características podem ser transmitidas à prole que, por sua vez, poderá desenvolver outras características favoráveis à sobrevivência, que se somarão às primeiras, e assim sucessivamente, até formar um grupo de indivíduos que se diferenciam dos que lhes deram origem. Esse é o processo que dá vida a novas espécies. Essa é a primeira fase da evolução das espécies, em que a seleção natural é dominada pela casualidade.
2ª fase - A luta pela sobrevivência
Na segunda fase da evolução, a seleção dos indivíduos se dá pelo critério de sobrevivência dos mais aptos. A partir da leitura de MalthusO economista inglês Thomas Robert Malthus (1766- 834) sustentava que enquanto a população aumenta em uma progressão geométrica, os recursos se desenvolvem em uma progressão aritmética o que leva, necessariamente, a uma luta pela existência. Analisando uma série de dados históricos e demográficos, chegara à conclusão de que toda vez que a população européia crescia excessivamente em relação à disponibilidade de alimento, uma série de causas naturais intervinham, tais como carestia, epidemias, etc., causando uma diminuição drástica dessa população, Darwin intuiu que, uma vez que os recursos existentes não são suficientes para todos os organismos que nascem, todas as espécies animais e vegetais estão em permanente competição umas com as outras pela sobrevivência e pela perpetuação nas gerações sucessivas. Só os que conseguem levar a melhor nessa luta chegam a reproduzir-se a transmitir à geração sucessiva as características hereditárias que favoreceram sua própria sobrevivência, o que faz com que cada geração melhore sua adaptabilidade em relação às gerações precedentes. Essa fase é, portanto, dominada pela necessidade.
Assim, Darwin lança um novo olhar sobre a questão da evolução: o ambiente não é a causa primaria do processo de evolução; esse papel é desempenhado pelas mutações genéticas, em grande parte casuais, e pela seleção dos mais aptos, cujo mecanismo é a luta pela sobrevivência.
Seleção artificial / seleção natural: uma analogia
No desenvolvimento de sua teoria, Darwin parte de um fato incontroverso: existe um processo de seleção artificial, que ele chama de “seleção sob regime doméstico”, ou seja, a prática muito antiga entre agricultores e criadores de escolher exemplares mais convenientes de uma espécie – planta ou animal – e excluir os menos vantajosos para, movidos sempre pelo critério de utilidade, melhorar a espécie ou até mesmo para criar variedades. Nesse caso, é o homem que intervém para modificar as características dos vegetais e animais a fim de adaptá-los às suas próprias necessidades. Não são os humanos que criam as variações, mas sim os processos naturais: os agricultores apenas intervêm regulando a seleção e decidindo quais variedades devem se reproduzir e quais devem ser deixadas à extinção.
Partindo desse fato, Darwin faz uma analogia com o ambiente natural, no qual ocorrem variações muito mais numerosas e um processo contínuo de seleção e exclusão, convencido de que a natureza opera de modo semelhante à mão humana nesse processo. Graças aos fósseis biológicos, já se sabia, na verdade, desde muito tempo, que muitas outras espécies – diversas das atuais – viveram em etapas geológicas anteriores, mas hoje estão extintas. Muitas teorias foram propostas par explicar este fenômeno – que revelava a mutabilidade biológica e a instabilidade temporal das espécies -, mas faltava uma explicação orgânica e convincente. Essa explicação chegou com a teoria da seleção natural.
A especiação
A teoria darwiniana se baseia na idéia de que alguns indivíduos pertencentes a uma determinada espécie apresentam, ao nascer, algumas variações causais em relação a outros indivíduos da mesma espécie. Tais modificações podem se mostrar úteis em um contexto particular, fazendo com que esses indivíduos consigam sobreviver e tenham mais sucesso na reprodução. A prole desses indivíduos pode herdar essas características, desenvolver novas características e também transmiti-las a seus descendentes. Assim, a longo prazo, a soma de características favoráveis, herdadas e desenvolvidas, pode determinar a formação de um grupo de indivíduos diversos em relação ao grupo inicial. Esse processo - chamado de especiação – é base do nascimento de novas espécies.
A árvore da vida
Para representar o conceito de evolução, Darwin propôs a imagem da “árvore da vida”, em substituição à escala da natureza, de LamarckLamarck
O biólogo francês Jean-Baptiste Lamarck (1744- 1829) imaginou uma escada de vida na qual os organismos podiam subir. Os degraus de baixo seriam ocupados por organismos microscópicos continuamente gerados espontaneamente a partir de matéria inerte. Ao topo da escada estariam os animais e plantas mais perfeitos, aqueles melhor adaptados ao ambiente.
. Nessa árvore, o tronco indica o antepassado comum, os ramos e os gomos representam as espécies existentes, os ramos produzidos durante os anos precedentes representam a longa sucessão das espécies extintas. A cada período de crescimento, todas as ramificações tendem a estender os ramos por toda a parte, a exceder e destruir as ramificações e os ramos circunvizinhos, da mesma forma que as espécies e os grupos de espécies têm, em todos os tempos, vencido outras espécies na grande luta pela existência. Das numerosas ramificações que prosperavam quando a árvore era apenas um arbusto, somente duas ou três sobrevivem, transformadas hoje em grossos ramos, e sustentam as ramificações subsequentes; da mesma maneira, das numerosas espécies que viviam durante os períodos geológicos afastados, muito poucas deixaram descendentes vivos e modificados. Desde o primeiro crescimento da árvore, mais de um ramo deve ter perecido e caído; estes ramos caídos representam as ordens, as famílias e os gêneros inteiros, que não têm representantes vivos e que apenas conhecemos no estado fóssil.
Veja um exemplo de árvore da vida.
O homem: um acidente na trajetória da evolução
Afinal, o que é o homem dentro da natureza? Com a explicação naturalista para a origem das espécies, o homem saiu do centro da criação e se tornou mais um animal. Não era mais uma criação de Deus, com um destino divino, mas um acidente ocorrido ao longo da evolução da matéria, uma parte limitada e relativamente insignificante do Cosmo, cujo destino evolutivo não se diferenciava de milhares de outras espécies extintas.
O tema da origem do ser humano é tratada por Darwin no livro “A Descendência do Homem e Seleção em Relação ao Sexo, publicado em 1871. Nele o naturalista afirma que nós somos seres vivos como todo os outros e, portanto, somos também sujeitos às mesmas leis que governam os fenômenos naturais. Nessa linha de raciocínio, o homem deve ter tido ancestrais com características semelhantes às dos animais aos quais ele hoje mais se assemelha, ou seja, os macacos.
A comunidade científica e outros setores da sociedade opuseram-se a esta conclusão pois não podiam admitir que o homem descendesse de macacos. Na verdade, Darwin não fez essa afirmação, até porque, pela sua teoria, o homem não poderia derivar de um animal que lhe é contemporâneo. O cientista afirmou simplesmente que o homem e o macaco devem ter tido, em tempos passados, ancestrais comuns. Ou seja, homem e o macaco compartilham um ancestral comum, mas isso não significa que um veio de outro.
Sobre desenvolvimento das faculdades intelectuais e morais do Homem em comparação com os animais inferiores, Darwin demonstra, nessa obra, que a seleção natural favoreceu na evolução humana o desenvolvimento de instintos sociais e o aumento correlacionado das faculdades racionais.