Em 9 de fevereiro de 1909 nascia, numa pequena aldeia de Portugal, uma menina que foi batizada como Maria do Carmo Miranda da Cunha. Quando tinha apenas dez meses de idade seus pais imigraram para o Brasil, mais precisamente para o Rio de Janeiro, onde passaram a residir no bairro da Lapa, na época um centro de boemia carioca, abrindo lá uma pensão.

A vida era dura para a família e, para ajudar nas despesas da casa e custear o tratamento de uma irmã tuberculosa, que ficara em Portugal, Maria do Carmo começou a trabalhar, aos 14 anos, numa loja de gravatas, abandonando os estudos.

Nessa época, já gostava de cantar, tanto que a família lhe dera o apelido de Carmen, personagem de uma ópera famosa, e distraía seus colegas de trabalho cantando para eles. Numa dessas apresentações, conheceu Josué de Barros, que a apresentou a pessoas ligadas à música.

Pronto! Assim, quase que por acaso, nascia Carmen Miranda, até hoje a cantora brasileira de maior sucesso internacional, e que conseguiu isso num tempo em que o mundo não era globalizado e as comunicações demoradas e difíceis.

Uma curta carreira...

A curta e gloriosa carreira de cantora e atriz começou aos 20 anos, mas o sucesso chegou em janeiro de 1930, quando lançou um disco com a música Pra Você Gostar de Mim , mais conhecida como “Taí” , que chegou a vender 35 mil unidades. O sucesso lhe rendeu participações em festivais, programas, concursos e no final do ano, Carmen já era apontada pelo jornal O País como "a maior cantora brasileira".

Prestigiada, Carmen consegue lançar sua irmã Aurora como cantora e em 1933 torna-se a primeira cantora a assinar um contrato de dois anos com a rádio Mayrink Veiga , quando na época, era de costume, pagar-se apenas cachê de participação. Tanto sucesso, rendeu a Carmen Miranda o apelido de "Cantora do It" .



No mesmo ano, após vencer um concurso, realizou sua primeira apresentação internacional, em Buenos Aires, Argentina, onde ficou conhecida como "Embaixatriz do Samba" .

Em janeiro de 1936 , Carmen estréia no filme “Alô, Alô Carnaval” com a irmã Aurora Miranda. As duas mais uma vez fazem história quando aparecem juntas na famosa cena em que cantam "Cantoras do Rádio" . Ainda em 1936 , participa do filme “Estudantes” e junto com Aurora passa a integrar o elenco do Cassino da Urca e a se dividir entre as apresentações locais e excursões frequentes pela Argentina. No mesmo ano, a estrela assinou novo contrato - desta vez milionário - com a rádio Mayrink Veiga.

O sucesso nacional de Carmen lhe trouxe admiradores internacionais e recebeu propostas de trabalho da Argentina e nos Estados Unidos, mas preferiu se manter no Brasil, assinando contratos sucessivos com a radio Tupi e, depois, com o Cassino da Urca , na época a maior casa de shows do Brasil, onde se apresentavam artistas de fama internacional.

O começo da glória...

E foi no Cassino da Urca que um empresário americano a viu, em 1939, e decidiu contratá-la para levá-la a uma temporada nos Estados Unidos. Carmen, entretanto, fazia questão de ser acompanhada pelo seu conjunto, O Bando da Lua, e só após convencer o empresário a levar o conjunto embarcou, já às vésperas da segunda-guerra mundial, em maio de 1939.



E já no dia 29 estreava num musical, o "Streets of Paris" , em Boston, que lhe rendeu um sucesso estrondoso, de público e de crítica. Não era para menos: os americanos jamais haviam visto algo assim: uma mulher exuberante, bonita, que cantava numa língua que eles não entendiam, mas que se fazia entender pela linguagem do corpo, com os braços gesticulando, os quadris requebrando, os olhos revirando.

Menos de um ano depois já se apresentava para o presidente americano. Era a consagração.

Nessa época a crítica já a chamava de “the brazilian bombshell”, algo como “a explosão brasileira”, numa alusão aos tempos de guerra, mas também com o significado de surpresa, inesperado.

"De volta ao Brasil...

Após um ano nos Estados Unidos, Carmen decide voltar, mas é recebida com vaias no Cassino da Urca, após cantar, em inglês, South American Way . Muitos dos convidados presentes, simpatizantes de correntes políticas contrárias aos Estados Unidos, julgaram-na americanizada.

As vaias não abalaram Carmen, que em resposta as críticas, lançou um novo show, sob o título de Disseram que Voltei Americanizada , de Vicente Paiva e Luiz Peixoto. Aplaudida de pé por uma platéia comum, Carmen conseguiu gravar seus últimos discos no Brasil.



Em 3 de outubro de 1940 , a artista volta aos Estados Unidos e grava a marca de seus sapatos e mãos na Calçada da Fama do Teatro Chinês de Los Angeles.

Entre 1942 e 1953 , Carmen atua em 13 filmes em Hollywood , participando também dos mais importantes programas de rádio, televisão, casas noturnas, cassinos e teatros norte-americanos. Nesse período se casa com um americano, que se tornou seu emrpesário.

Carmem também foi considerada a artista de maior sucesso do projeto “A Política de Boa Vizinhança” , implementado pelos Estados Unidos para buscar aliados na Segunda Guerra Mundial, embora tenha chegado nos EUA antes de sua criação. O projeto abriu espaços para a imigração de artistas latino-americanos.

Do sucesso às drogas...

Para cumprir sua extensa e cansativa agenda, Carmen Miranda, ainda no início de sua carreira americana, começou a usar remédios: para dormir, para ficar acordada, para se manter magra, e acabou se tornando dependente deles.

O marido de Carmen, David Sebastian, era alcoólatra e pode ter estimulado a estrela a consumir bebidas, o que aumentou sua dependência química.

Em 1948 , a cantora engravida, mas depois de uma apresentação, sofre aborto espontâneo e perde o bebê.

Depois de 14 anos sem se apresentar no Brasil, Carmen volta ao país em 3 de dezembro de 1954 e seu médico constata uma dependência química, tentando, sem sucesso, desintoxicá-la. Internada durante 4 meses para tratamento na suíte do hotel Copacabana Palace, Carmen até melhora, porém não abandona completamente o álcool, o cigarro e as drogas.

A estrela sai de cena...

Em 4 de abril de 1955 , ainda não totalmente recuperada, Carmem volta aos EUA e reinicia suas turnês e ao gravar uma participação num programa de televisão sofre um desmaio em frente às câmeras, é amparada, recupera-se e termina aquele que seria seu último número.

Para comemorar, recebe alguns amigos em sua casa e após beber e cantar algumas canções vai para o quarto dormir. Um colapso cardíaco fulminante põe fim a carreira brilhante de Carmen Miranda, encontrada morta por sua empregada na madrugada de 5 de agosto de 1955 . Carmen tinha 46 anos. A revista O Cruzeiro , a de maior circulação na época, noticiou assim sua morte:

“Carmen morreu como deveriam morrer sempre os cantores, os poetas e s passarinhos: ainda jovens, ainda fortes. Antes que o tempo e a velhice os tornem simples e melancólicos fantasmas vivos de um passado glorioso”.