Jorge,Amado sempre

"Aprendi com o povo e com a vida,
sou um escritor e não um literato,
em verdade sou um obá (orixá africano)"
"Não nasci para famoso nem para ilustre,
não me meço com tais medidas,
nunca me senti escritor importante, grande homem:
apenas escritor e homem"
Ele pautou a sua vida assim, com um olhar para o outro.
Por isso foi grande.

Antonio Torres, escritor

As palavras do escritor Antonio Torres resumem bem a obra de Jorge Amado: ele olhava para o outro, para o povo. Soube tratar, como ninguém, as injustiças sociais.

Em seus escritos, a beleza e alegria da Bahia se misturavam à miséria e ao sofrimento de seus personagens.

A vida pessoal e política

Num pais sem memória, quem morre é imediatamente esquecido. Quando eu morrer, vou passar uns 20 anos esquecido.
  • Jorge Amado nasceu no dia 10 de agosto de 1912, na Fazenda Auricídia, Itabuna, Bahia.
  • Com um ano, a família mudou-se para Ilhéus, onde passou a infância e aprendeu as primeiras letras.
  • Estudou em Salvador, no Colégio Antônio Vieira e no Ginásio Ipiranga. Já participava da vida literária, sendo um dos fundadores do movimento cultural Academia dos Rebeldes, fundada oficialmente em 1928, quando Jorge Amado contava 16 anos.
  • Em 1930 muda-se para o Rio de Janeiro.
  • Em 1933 se casou com Matilde Garcia Rosa, com quem teve uma filha, Eulália, que morreu repentinamente em 1946, com apenas 11 anos.
  • Desde muito cedo se envolveu com política. Em 1932 filiou-se ao PCB(Partido Comunista Brasileiro), sendo preso, pela primeira vez em 1936, acusado de participar da Intentona Comunista, tentativa de golpe para derrubar Getúlio Vargas.

A partir desse momento, sua vida política foi extremamente agitada. Após a publicação de seu romance Capitães de Areia, em 1937, exemplares do livro são apreendidos e queimados em praça pública, em Salvador, por serem considerados subversivos.é preso novamente nesse ano, devido à supressão da liberdade de imprensa, sendo solto em 1938.

  • Em 1941, foi exilado no Uruguai e Argentina; em 1943, de volta ao Brasil, foi preso pela terceira vez, em prisão domiciliar.
  • Em 1944 separou-se de Matilde e, em 1945, conhece a também escritora Zelia Gattai, com quem terá dois filhos, João Jorge e Paloma. Apenas em 1978 os dois se casam oficialmente.
  • Em 1945, torna-se deputado pelo Estado de São Paulo, pelo PCB. Participa da Assembleia Constituinte de 1946. é dele a proposta de lei que assegurava a liberdade de culto religioso.
  • Em 1947 seu mandato foi cassado e logo a seguir, em 1948, o partido foi considerado clandestino e Jorge Amado se exila em Paris, onde viveu até 1950, e conheceu o filósofo Jean-Paul Sartre.
  • Expulso da França, por motivos políticos, mudou-se com a família para a Tchecoslováquia, onde viveu até 1952, quando voltou ao Rio de Janeiro.
  • Em 1961 foi eleito para a Academia Brasileira de Letras. Sua intensa atividade política influenciou sua obra, sempre com viés socialista, tratando de injustiças sociais e de todas as formas de exploração.
  • Por conta de intensa atividade política, Jorge se exilou em diversos países, mantendo contato com escritores renomados como Pablo Neruda, Mario Vargas Llosa, Gabriel Garcia Márques e o filósofo Jean-Paul Sartre.
  • No Brasil, manteve contato com diversas personalidades como Raul Bopp, José Americo de Almeida, Gilberto Freyre, Carlos Lacerda, José Lins do Rego, Vinicius de Moraes, o sociólogo Darcy Ribeiro e o arquiteto Oscar Niemeyer.
  • Em 1987, foi fundada a Casa de Jorge Amado, grande sonho do autor, que tinha a intenção de divulgar a Bahia para o mundo. Hoje, a Casa recebe mais de 60 mil visitantes por ano nos dois casarões que ocupa no Pelourinho, cenário de tantas obras de Jorge Amado.
  • Em 1995 recebe o prêmio Camões, considerado o mais importante prêmio literário de língua portuguesa.
  • Em 6 de agosto de 2001, Jorge Amado morreu em Salvador. O também escritor e baiano João Ubaldo escreveu uma crônica sobre o que representava Jorge Amado.
  • Jorge, ao contrário do que ele afirmara, nunca foi esquecido.

A vida literária

A minha Bahia não é dos ricos, é a dos despossuídos.

  • Em 1933, publica O país do Carnaval. O romance traz como protagonista o brasileiro Paulo Rigger que não se identificava com o país. A personagem considerava que o carnaval alienava o povo.
  • O romance de estréia, primeiro de uma série que retratava a vida na Bahia, foi construído sob influência do Modernismo, na sua segunda fase (1930 - 1945).
  • Considerado subversivo, em 1937, o romance foi proibido e queimado em praça pública, em Salvador.
  • Em 1933, publica Cacau, segundo romance e o primeiro da longa lista de romances que tratam da indústria cacaueira.
  • Publica Jubiabá, em 1936. Este quarto romance é o primeiro cujo protagonista era negro. Elogiado por críticos estrangeiros, Jorge Amado começa a ganhar fama e notoriedade internacional tendo apenas 24 anos.
  • Sua obra literária estendeu-se ao longo de setenta anos de intensa atividade. Publicou livros em 55 países e foi traduzido para 49 idiomas. Seus livros, adaptados para o cinema, televisão, teatro, rádio e história em quadrinhos, são conhecidos em quase todo o mundo.
  • Sua excelência como escritor rendeu-lhe vários prêmios e troféus, bem como diversos títulos honoríficos nacionais e estrangeiros. Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 1961.
  • Sua obra de invejável riquesa de detalhes e realismo, focaliza a infância abandonada, o proletariado, os saveiristas, os negros, os vagabundos, em conflito com a sociedade dominante. Ela reflete o próprio drama social brasileiro, ao enfatizar a monocultura e seus desequilíbrios econômicos, a exploração agrícola e os desajustes sociais.

Bibliografia

Produções individuais

  • O País do Carnaval, 1931
  • Cacau, 1933
  • Suor, 1934
  • Jubiabá, 1935
  • Mar Morto, 1936
  • Capitães de Areia, 1936
  • Terras do Sem Fim, 1943
  • São Jorge dos Ilhéus, 1944
  • Seara Vermelha, 1946
  • Os subterrâneos da Liberdade (3 volumes), 1954 (v.1: Os ásperos Tempos; v.2: Agonia da Noite; v.3: A Luz no Túnel
  • Gabriela, Cravo e Canela: crônica de uma cidade do interior, 1958
  • Os Pastores da Noite, 1964
  • Dona Flor e Seus Dois Maridos, 1966
  • Tenda dos Milagres, 1969
  • Teresa Batista Cansada da Guerra, 1972
  • Tieta do Agreste: pastora de cabras ou A volta da filha Pródiga, 1977
  • Farda Fardão Camisola de Dormir, 1979
  • Tocaia Grande: a face obscura, 1984
  • O Sumiço da Santa: uma História de Feitiçaria, 1988
  • A Descoberta da América pelos Turcos ou De como o árabe Jamil Bichara, desbravador de florestas, de visita à cidade de Itabuna, para dar abasto ao corpo, ali lhe ofereceram fortuna e casamento ou Ainda Os esponsais de Adma, 1944
  • O Compadre de Ogum, 1995

Novelas

  • A Morte e a Morte de Quincas Berro D'água, 1959
  • A Morte e a Morte de Quincas Berro D'água, publicada juntamente com Os Velhos Marinheiros ou A completa verdade sobre as dicutidas aventuras do Comandante Vasco Moscoso de Aragão, capitão de longo curso, in Os Velhos Marinheiros, 1961
  • Os Velhos Marinheiros ou A completa verdade sobre as dicutidas aventuras do Comandante Vasco Moscoso de Aragão, capitão de longo curso, 1976

Literatura Infanto-Juvenil

  • O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá: uma história de amor, 1976
  • A Bola e o Goleiro, 1984
  • O Capeta Carybé, 1986

Teatro

  • O Amor do Soldado, 1947 (ainda com o título O Amor de Castro Alves, 1958

Poesia

  • A Estrada do Mar, 1938
  • O Amor do Soldado, 1947 (ainda com o título O Amor de Castro Alves), 1958

Contos

  • Sentimentalismo, 1931
  • O homem da mulher e a mulher do homem, 1931
  • História do Carnaval, 1945
  • As mortes e o triunfo de Rosalinda, 1965
  • Do recente milagre dos pássaros acontecido em terras de Alagoas, nas ribanceiras do rio São Francisco, 1979
  • O episódio de Siroca, 1982
  • De como o mulato Porciúncula descarregou o seu defunto, 1989

Relatos autobiográficos

  • O menino grapiúna, 1981
  • Navegação de cabotagem: apontamentos para um livro de memórias que jamais escreverei, 1992

Textos autobiográficos

  • ABC de Castro Alves, 1941
  • O cavaleiro da esperança, 1945

Guia/Viagens

  • Bahia de Todos os Santos: guia de ruas e de mistérios, 1945
  • O mundo da paz(viagens), 1951
  • Bahia boa Terra Bahia, 1967
  • Bahia, 1970
  • Terra Mágica da Bahia, 1984

Documento Político/oratória

  • Homens e coisas do Partido Comunista, 1946
  • Discursos, 1993

Livro traduzido

  • Dona Bárbara (Doña Barbara), romance do venezuelano Rómulo Gallegos, 1934 em parceria
  • Lenita (novela), com Edison Carneiro e Dias da Costa, 1929
  • Descoberta do Mundo (literatura infantil), com Matilde Garcia Rosa, 1933
  • Brandão entre o mar e o amor, com José Lins do Rego, Graciliano Ramos, Aníbal Machado e Rachel de Queiroz, 1942
  • O mistério de MMM, com Viriato Corrêa, Dinah Silveira de Queiroz, Lúcio Cardoso, Herberto Sales, Rachel de Queiroz, José Condé, Guimarães Rosa, Antônio Callado e Orígines Lessa, 1962

O autor nos braços do povo

As adaptações da obra de Jorge Amado para o cinema e televisão foram numerosas e contribuíram decisivamente para difundir ainda mais as suas histórias entre os estados sociais e culturais que não tinham acesso aos seus livros.

Televisão

Gabriela Cravo e Canela - A primeira adaptação da obra para a televisão foi feita em 1961, pela TV TUPI. Seguiram-se duas versões da TV Globo, uma em 1975, que imortalizou Sonia Braga no papel-título e outra em 2012, marcando o centenário do escritor, com Juliana Paes.

Terras do Sem Fim - Teve duas adaptações, uma para a TV TUPI, em 1966 e outra para a TV Globo em 1981.

A Morte e a Morte de Quincas Berro D'água - foi tema de novela na TV TUPI, em 1968 e em Caso Especial, da TV Globo em 1978.

Capitães de Areia - Em 1989 foi adaptado para minissérie pela TV Bandeirantes.

Tieta do Agreste - Em 1989 inspirou novela produzida na TV Globo, com Beth Faria no papel-título.

Tereza Batista - Também foi adaptada para minissérie, em 1992, pela TV Globo.

Dona Flor e Seus Dois Maridos - Outra adaptação, para o formato de minissérie, pela TV Globo, em 1998.

Cinema

Um total de 17 filmes em longa-metragem foram produzidos a partir da obra de Jorge Amado. Alguns estão aqui representados:

Dona Flor e Seus dois Maridos - Produzido em 1976, foi, durante mais de 30 anos, a maior bilheteria do cinema nacional, tendo Sonia Braga, José Wilker e Mauro Mendonça nos papéis principais e a direção de Bruno Barreto.

Tieta do Agreste - Dirigido por Cacá Diegues, com Sonia Braga no papel-título e trilha de Caetano Velozo.

Quincas Berro D'água - Paulo José encarnou a personagem principal, nesta produção dirigida por Sergio Machado.

Gabriela - Com Sonia Braga e Marcelo Mastroianni, direção de Bruno Barreto.

Teatro

Embora Jorge Amado tivesse escrito algumas peças de teatro, diversas obras suas, dentre romances e novelas, foram encenadas em diferentes montagens. A que teve maior repercurssão foi, sem dúvida, Capitães de Areia, montada em 1982 e 1992 e vista por milhares de jovens.

Navegando pelo mar de Jorge Amado

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